Construção é pautada por conceitos de sustentabilidade
Por mais profunda que fosse, uma reforma não seria o bastante para que o Estádio Vivaldo Lima (Vivaldão), projetado por Severiano Porto e inaugurado em 1970, atendesse aos requerimentos da Fifa para a Copa de 2014. Chegou a ser considerada a hipótese de Manaus ganhar uma segunda arena em outro endereço, de modo a preservar o antigo equipamento, que hoje tem capacidade para 31 mil pessoas. No entanto, dois fatores contribuíram para inviabilizar a proposta. O primeiro é a inexistência de demanda para dois estádios desse porte na cidade – Manaus tem também o São Raimundo, com 16 mil lugares. O segundo é a localização estratégica do Vivaldão, no principal eixo do transporte público, próximo do aeroporto, do centro histórico e de hotéis, e dentro de um complexo que já engloba a vila olímpica, a arena poliesportiva e o sambódromo, além de um centro de convenções em construção. “Uma nova arena é um fator que irá contribuir para a reurbanização da favela que existe no entorno e também para a requalificação da área como um todo. O estudo de viabilidade propõe a construção de edifícios de escritórios, residenciais e institucionais na região”, comenta o arquiteto Danilo Carvalho (FAU/Mackenzie, 1995), diretor do Grupo Stadia, responsável pelo desenvolvimento do projeto.
Além do papel decisivo na remodelação urbana, o novo estádio pode deixar outros legados e se tornar não só um centro de esporte e lazer para a população, como um novo atrativo para o turismo regional. “O nome Arena da Amazônia já sugere um equipamento desenvolvido com base em princípios de sustentabilidade. O projeto é balizado pelo programa Green Goal [meta verde], que tem diretrizes de não-agressão ao ecossistema”, explica o arquiteto Ralf Amann (Universidade de Stuttgart, 1997), representante no Brasil do GMP, escritório alemão responsável por projetos para a Copa de 2006 na Alemanha (Arena Rhein-Energie, em Colônia, reestruturação do Estádio Olímpico de Berlim), pelo estádio de Foshan, na China, e por três outras arenas para a Copa de 2010, na África do Sul (Nelson Mandela, em Port Elizabeth; Green Point Stadium, na Cidade do Cabo; e Moses Mabhida, em Durban). O projeto visa a certificação pelo Leed e apresentará recursos para eficiência energética e redução do consumo de água. “Teremos sistema para captação e reúso das águas pluviais, nas áreas externas serão empregadas luminárias de baixa tensão abastecidas por energia solar, usaremos materiais locais e reaproveitaremos o que for possível para reduzir os resíduos”, exemplifica Carvalho.
A nova arena, com capacidade para 43,6 mil espectadores, tem design inspirado na diversidade de formas e texturas encontradas na floresta amazônica e visa refletir a identidade local. “A GMP sempre busca as referências regionais em seus projetos”, destaca Amann. O equipamento ocupará exatamente o mesmo ponto do Vivaldão e ficará apoiado em talude com cerca de 12 metros entre o ponto mais alto e o mais baixo. As arquibancadas em concreto receberão cobertura feita com estrutura mista – concreto na base e parte superior metálica com disposição radial. A própria arquibancada superior ajudará no travamento da cobertura. O fechamento será feito com membrana translúcida tensionada e os brises fixos na estrutura possibilitarão a ventilação cruzada na área coberta.
Atendendo aos requerimentos da Fifa, o novo estádio disporá de grandes áreas de estacionamento, totalizando 9 mil vagas. Somente o espaço destinado aos atletas, dirigentes e imprensa terá capacidade para 3 mil veículos. Os fluxos internos estabelecem circulações exclusivas para jornalistas, atletas, vips e torcedores; a área externa para garantir a rápida dispersão do público soma 15 mil metros quadrados. O centro de convenções em construção abrigará instalações vips e estandes de patrocinadores.
Embora estejam previstas diversas intervenções no entorno, o contrato abrange apenas a nova arena, concebida pela equipe da GMP – Volkwin Marg (Universidade Carolo-Wilhelmina em Braunschweig, 1964), Hubert Nienhoff (Universidade Aachen RWTH, 1985) e Martin Glass (Universidade de Ciências Aplicadas Kaiserslautern, 1999). O desenvolvimento do projeto ficou por conta do Stadia.
Texto de Nanci Corbioli
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 357 Novembro de 2009
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